quarta-feira, 31 de março de 2010

Que significa que só podemos conhecer Deus

Que significa que só podemos conhecer Deus

pela revelação?

De facto, esta é uma questão fundamental da fé cristã e um divisor de águas face às religiões em geral. O Deus dos cristãos é um Deus que se revela, por oposição aos “ídolos mudos” das religiões pagãs (expressão de Paulo em 1 Cor. 12:1-2). De facto, há duas formas de concebermos Deus:

Ø Como um «Deus desconhecido» (Actos 17:23), a que o homem procura chegar através da sua razão – é este o caminho da religião;

Ø Como um Deus que se revela, isto é, que se dá a conhecer ao homem naquilo que Ele mesmo considera ser importante ele conhecer – este é o caminho da revelação.



A razão

O caminho da religião baseia-se na razão humana, e, por isso, está à partida votado ao fracasso. Ninguém pode alcançar a mente e a infinita diversidade de Deus através da razão. A Bíblia afirma, peremptoriamente: «Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente» (1Co 2:14).

A mente humana é um instrumento magnífico em muitas áreas da vida e do conhecimento. Deus dotou o homem de inteligência e o seu exercício é algo maravilhoso que recebe a aprovação e bênção de Deus. Simplesmente, no que toca ao conhecimento de Deus, a razão é um instrumento de alcance absolutamente ineficaz. Como Deus falou a Isaías (55:8): «Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o SENHOR».

A razão cria representações de deus, geralmente antropomórficas; isto é, projectam na figura da divindade características da própria natureza humana. A mitologia greco-latina é um dos melhores exemplos dessa forma de conceber os deuses como, afinal, muito semelhantes aos seres humanos, apenas vivendo numa dimensão distinta.


Essas representações da divindade são as mais variadas: desde as mais simples e grosseiras, como as que encontramos nas civilizações menos desenvolvidas, até às mais sofisticadas, como as que hoje vigoram no imaginário de muitas pessoas. Mas, simples ou refinadas, todas têm em comum a mesma origem: a razão humana.


A revelação

A razão parte do homem para Deus. A revelação vem de Deus até ao homem. Paulo escreveu que as coisas que a razão humana nunca poderia alcançar «Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus» (1Cor. 2:10). E o apóstolo João (1:18) observou: «Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigénito, que está no seio do Pai, esse o revelou».

Que diferença! A razão perde-se numa infinitude de imagens de deus(es), muitas vezes contraditórias. Mas o Evangelho apresenta-nos Deus como uma Pessoa viva que toma a iniciativa de se revelar ao homem e que, por isso, é possível conhecer!


Como se revela Deus ao homem?

A própria criação revela-nos Deus: é a chamada revelação natural. É impossível ficar indiferente às maravilhas que Deus criou a atribui-las ao acaso:

Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos(Salmo 19:1).

No entanto, o homem endureceu o seu coração de tal forma que deixou de perceber Deus na criação. Paulo explica isso nos seguintes termos (Romanos 1:19-21):

«Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis; porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus».

Por isso, Deus preparou uma revelação, clara e definitiva, ao alcance do homem de qualquer raça, época ou cultura: a PALAVRA (ou Verbo).

a)A Palavra escrita – revelada aos profetas: a que encontramos na Bíblia.

b)A Palavra viva, que se fez carne – Deus feito homem em Jesus de Nazaré.


A Palavra-escrita e a Palavra-pessoa são indissociáveis e têm a sua origem na mesma pessoa: o Filho eterno de Deus.

-No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus» (..). E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade» (Jo. 1:1, 14).

-Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho» (Hb 1:1).

-Jesus explicou (João 5:39): «Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam».

-Em Apocalipse (19:13), João vê Jesus glorificado e descreve-o nos seguintes termos: «E estava vestido de uma veste salpicada de sangue; e o nome pelo qual se chama é a Palavra de Deus».


Jesus de Nazaré, o Cristo de Deus, trouxe-nos a perfeita revelação de Deus:

-Quem me vê a mim, vê aquele que me enviou. (…) Disse-lhe Jesus: Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai?» (Jo 12:45; 14:9).


-Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigénito, que está no seio do Pai, esse o revelou» (João 1:18).


Babel ou Betel?

Há duas fortíssimas imagens no Velho Testamento que ilustram a diferença entre religião e revelação. A primeira é a torre de Babel (Gén. 11:19 – a própria palavra Babel é significativa, uma vez que o seu sentido é “confusão”). Os homens tentaram construir uma torre que chegasse aos céus, sem, obviamente, o conseguirem. Este é o projecto da religião do homem: chegar a Deus pela razão, através dos seus esforços, redundando afinal em confusão e contradição.

A segunda é a experiência de Jacó em Betel (Gén. 28:15-19 – Betel significa «casa de Deus») , quando, num sonho, vê o céu aberto e uma escada que desce dos céus até à terra. Ali Jacó escuta a voz de Deus falando com ele, e vê anjos de Deus subindo e descendo pela escada.

O segredo está nessa escada, posta entre o céu e a terra, entre Deus e os homens. Qual o significado dessa escada? Numa clara alusão à visão de Jacó, em João 1:51, Jesus diz que essa escada é o “Filho do homem”, isto é, Ele mesmo: «Na verdade, na verdade vos digo que daqui em diante vereis o céu aberto, e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem».

O sonho de Jacó ilustra claramente o que é a revelação: Jesus, o Filho de Deus, faz a ligação entre Deus e os homens. Por Ele (e só por Ele) vamos ao Pai: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim» (João 14:6). E por Ele temos acesso à operação do Espírito Santo que, na figura dos anjos, opera constantemente em favor dos que vão herdar a salvação (Heb. 1:14).